terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Joãozinho e a Lua

Joãozinho era fanático pela Lua.
Vivia namorando a sua intocável beleza.
Nas noites nubladas Joãozinho sofria.
Ele teve então uma ideia: criou um ídolo em formato de Lua para adorar.
Fez um altar, ali no seu pátio, ali tão perto.
Ficou tão feliz o Joãozinho com sua ideia. 
Nunca mais sofreria com a distância e os dias nublados.
Seus amigos também começaram a idolatrar o satélite distante.
E os amigos dos amigos também.
E o culto ao ser inanimado cresceu.
O símbolo da sua amada foi parar em camisetas e bandeiras.
Joãozinho não lembrava mais da Lua lá do céu.
A ideia do culto, as bandeiras, a idolatria tomaram conta de sua mente.
E de todos os outros fanáticos pela lua terrena.
E mais pessoas chegavam para adorar o ser inerte no pátio de Joãozinho.
Numa noite mais escura, onde nosso satélite não iluminava o suficiente aconteceu uma tragédia.

De manhã cedo, preparado para mais um dia de adoração, deparou-se com o altar vazio.

Ninguém ali estava. 
Seus amigos sumiram.
Os amigos dos amigos também.
De repente teve uma ideia: alguém levara a sua lua para passear.
Saiu desembestado o Joãozinho e chegou ao centro da cidade.
Uma multidão imensa cantava e louvava a sua lua. 
Ele não conseguia se aproximar.
Ao longe então ele viu.
Ela estava lá, no alto, com homens engravatados discursando.
Eles prometiam saciar a fome da cidade, se todos pagassem para ver a sua lua.
De repente foi como se o mundo perdesse todo sentido.
Joãozinho voltou para casa, mudo e triste.
Naquela noite ele voltou à janela depois de muitos meses.
E lá, radiante e sorridente, estava a sua Lua verdadeira.
Ele deitou na cama cansado, com uma lágrima teimosa descendo pelo rosto.
Lá de cima a Lua embalava seu sono:
"Boa noite meu menino!"

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sinta-se em casa!