quinta-feira, 21 de julho de 2016

A Última Folha da Árvore

Título sugerido por Tyanne Maia.
Texto redigido por Marilia Bavaresco.

2095. Ano em que já não havia mais nenhum vestígio de água potável e vegetação no planeta.
João saiu de sua casa e a mãe gritou:
- Filho! Coloca a proteção. Está caindo chuva ácida e tem previsão de fazer 50 graus hoje.
Ele se agasalhou, colocou a máscara e saiu.
Já estava acostumado com o cinza do céu, o calor insuportável e aquela garoa que era capaz de furar as roupas mais finas e machucar as peles humanas sensíveis pela falta de sol e falta de uma boa alimentação.
João estava indo para o lugar onde sempre ia todos os dias: Praça da Alfândega de Porto Alegre. Dentre tantos lugares no mundo, esse foi o único que sobrou com uma árvore viva. Ninguém sabia o porquê, se havia sido o clima, se o solo, ou a temperatura. O fato é que ela havia virado motivo de admiração mundial e estava sendo cuidada pelo mundo todo. 
O problema é que a pobre árvore estava cedendo. Já não tinha mais folhas e a única que sobrara estava prestes a cair a qualquer momento. E nesse dia o mundo seria pior do que jamais havia sido, sem nenhum sinal de vegetação, sem florestas e nenhum resquício de água. O ser humano estava irremediavelmente fadado a desaparecer da Terra que tanto abusou por tantos séculos.
João, que nunca tinha vivido em outra realidade, admirava a árvore e imaginava como havia sido o mundo de outrora. Imaginava-se caminhando numa floresta, ouvindo o farfalhar de folhas... como seria isso? Por que seus antepassados não cuidaram para que não se chegasse a essa desolação?
Ao se aproximar do local da árvore uma multidão estava ao redor dela. Era um local de peregrinação, de adoração, onde as pessoas paravam, admiravam e se entristeciam resignadas com o seu fim iminente.
Porém, neste dia não foi como nos outros. Estava um silêncio abissal e ao se aproximar um senhor alto fez sinal de silêncio. O menino se ergueu na pontinha dos pés. A folhinha amarelada não estava mais lá. Alguns choravam silenciosamente, outros viravam as costas e saiam cabisbaixos. Com o passar do tempo ele conseguiu chegar no cercado que circundava a árvore. Lisa, seca mas em pé. E enquanto a maioria ia embora ele decidiu ficar ali. Inconformado.
Passou o dia olhando para a árvore imaginando o que ele havia feito para merecer um mundo sem nenhum resquício de vegetação ou menor sinal de água.
João olhou para cima, ainda pensando no que poderia acontecer a partir dali e vislumbrou um nozinho verde, bem lá no topo. O que seria aquilo? Mostrou ao guardião da árvore que acionou os cientistas e biólogos e descobriram com alegria que estava brotando na árvore uma nova folhinha. Esperança!
Nesse momento uma rajada de vento bateu no rosto de João e ele acordou. A mãe abriu a janela e disse:
- Vai dormir o dia todo só porque está de férias?
João, assustado e aliviado respondeu:
- Não mãe!!! Vou convidar a gurizada para ir pra Redenção!!!
Nunca sentiu tanto prazer em andar descalço sob a sombra das árvores no parque.

10 comentários:

  1. Adorei Marília, muito atual. Esse é um ótimo conto para despertar as pessoas para a importância do meio ambiente do cuidado que deveríamos ter com nosso bem maior, "A Natureza". Parabéns pela pastagem.

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  2. Esse tipo de pesadelo deveria assombrar a todos para que entendessem o que estão perdendo.

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  3. Gostei demais,lembro de meus devaneios culturais de outrora cheios de indagações e respostas.Parabéns por gostar disso,faz muito bem,mesmo que poucos leiam,não interessa. Beijo,Boa noite filha.

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