Título sugerido por Denise Rosa
Texto redigido por Marilia Bavaresco.
Gabriela estava realmente assustada. Precisava de uma resposta e essa era sua última tentativa. Já tinha tentado de tudo: centro espírita, umbanda, pai de
santo, tabua ouija, cartomante... mas agora estava decidida. Procurou um psiquiatra porque estava enlouquecendo. Remoía tudo que tinha que falar para o médico.
A primeira vez em que vira a assombração, estava num jantar com amigas num restaurante. Ela estava de costas para a parede e já tinha tomado algumas margaritas, mas quando aquela figura curvada e velha, mal vestida atravessou o salão em busca do banheiro do outro lado, ela parou. Estranhou. Levantou de sopetão e foi atrás da "aparição". Só que não havia ninguém no banheiro. Voltou pra mesa e tinha certeza que a visão tinha sido resultado do álcool. A amiga que estava do seu lado não tinha visto nada estranho. Esqueceu.
A segunda vez foi no dia seguinte, à tarde, quando estavam ela e as amigas na praia, sob o guarda sol, curando a ressaca. Não era possível, a mesma mulher estranha, com a mesma roupa, curvada caminhando em direção ao outro lado da orla. Quando ela chamou as amigas para olharem, a velhota tinha sumido. Ela sentiu uma palpitação estranha. Começou a se preocupar, já que desta vez estava sóbria.
No primeiro dia de aula do semestre na faculdade, quando estava sentada no saguão com seus colegas no intervalo, do nada surgiu a mesma pessoa, igualmente encurvada, igualmente estranha e assustadora. Dessa vez ela olhou para o grupo. Gabriela chamou a atenção de alguns colegas mas ninguém viu nada como de costume.
Foram muitas outras aparições, cada vez mais frequentes.
Mas a mais estranha delas aconteceu na feira perto de sua casa. Estava escolhendo alguns legumes na banca dos pimentões e a mulher assombrada parou do lado dela. Olhou os legumes, olhou para ela e saiu em disparada. Em meio àquelas pessoas Gabriela saiu correndo atrás para ver se
a alcançava e quando se deu conta, estava como uma doida, toda descabelada gritando para segurarem a assombração. Todos se afastavam, cochichavam achando que Gabriela estava em surto. Envergonhada, ajeitou o cabelo, virou as costas e foi para casa, querendo desaparecer. Nem sinal da senhora do além.
Gabriela em muitas dessas ocasiões tentava que outras pessoas lhe dessem atenção, mas quando davam, a assombração tinha sumido.
Hoje ela iria relatar ao médico todas as vezes que lembrava da figura sinistra ter cruzado seu caminho nestes últimos meses. Não aguentava mais a tensão. Já saia na rua imaginando que a senhora assombrada iria cruzar seu caminho em qualquer lugar. Só ficava sossegada sozinha porque sabia que a assombração preferia locais públicos, lugares com muita gente. Estava se isolando para ter um pouco de paz, mas começou a se deprimir com isso. Queria solucionar o problema, mesmo que fosse diagnosticada com algum transtorno de personalidade. Mesmo que precisasse de remédios.
Ali, sentada na cadeira de um consultório, ela suspirava e tinha certeza que estava doente. Alguma coisa não estava bem na sua cabeça. Escorreu uma lágrima. Depois outra... tentou se controlar.
De repente a porta do consultório abriu e o médico colocou a cabeça para fora, e chamou a secretária. Ela entrou na sala e logo saiu. Ligou para alguém e alguns minutos depois apareceram dois enfermeiros.
A secretária olhou para Gabriela da sua mesinha e disse baixinho:
- O doutor já vai te atender. Essa paciente que está com ele precisa ser medicada e ficar em observação por isso atrasou um pouco seu horário. Desculpe.
- Não tem problema - disse desanimada.
De repente a porta do consultório abriu e, Gabriela baixou os olhos para não constranger a paciente que sairia escoltada pelos enfermeiros. Só que de repente começaram os gritos:
- Olha ela ali! Olha ela ali sentada! Vocês estão vendo???? Ela! Ela é a assombração que me persegue! - e apontava para Gabriela com terror nos olhos cheios de catarata.
Coração quase na boca, a moça reconheceu aquela pessoa: era a velhota sinistra que vivia aparecendo na sua frente. A velhota continuou gritando:

Gabriela começou a rir. Riu e chorou muito ali na frente de todos, incluindo o médico. A cabeça parecia que ia dar um nó... então a senhorinha achava que ela era a assombração? Chorava, ria e uivava. Deitou no chão de tanto rir... riu tanto que fez até xixi nas calças.
Acordou no outro dia e sua mãe estava ali ao pé da cama. Tinha sido internada na casa de saúde porque não conseguia mais parar de rir. Tiveram que dar um sossega leão e fazê-la dormir.
Curiosa, olhou para ver a paciente do lado, já que o quarto era coletivo.
- Não, de novo não!!! - as duas gritaram ao mesmo tempo, a idosa e a Gabriela. A velha com medo apavorada na outra cama e a moça rindo alucinadamente.
Ambas permanecem internadas, sem previsão de alta.