terça-feira, 23 de agosto de 2016

Assombrações

Título sugerido por Denise Rosa
Texto redigido por Marilia Bavaresco.


Gabriela estava realmente assustada. Precisava de uma resposta e essa era sua última tentativa. Já tinha tentado de tudo: centro espírita, umbanda, pai de
santo, tabua ouija, cartomante... mas agora estava decidida. Procurou um psiquiatra porque estava enlouquecendo. Remoía tudo que tinha que falar para o médico.
A primeira vez em que vira a assombração, estava num jantar com amigas num restaurante. Ela estava de costas para a parede e já tinha tomado algumas margaritas, mas quando aquela figura curvada e velha, mal vestida atravessou o salão em busca do banheiro do outro lado, ela parou. Estranhou. Levantou de sopetão e foi atrás da "aparição". Só que não havia ninguém no banheiro. Voltou pra mesa e tinha certeza que a visão tinha sido resultado do álcool. A amiga que estava do seu lado não tinha visto nada estranho. Esqueceu.
A segunda vez foi no dia seguinte, à tarde, quando estavam ela e as amigas na praia, sob o guarda sol, curando a ressaca. Não era possível, a mesma mulher estranha, com a mesma roupa, curvada caminhando em direção ao outro lado da orla. Quando ela chamou as amigas para olharem, a velhota tinha sumido. Ela sentiu uma palpitação estranha. Começou a se preocupar, já que desta vez estava sóbria.
No primeiro dia de aula do semestre na faculdade, quando estava sentada no saguão com seus colegas no intervalo, do nada surgiu a mesma pessoa, igualmente encurvada, igualmente estranha e assustadora. Dessa vez ela olhou para o grupo. Gabriela chamou a atenção de alguns colegas mas ninguém viu nada como de costume. 
Foram muitas outras aparições, cada vez mais frequentes.
Mas a mais estranha delas aconteceu na feira perto de sua casa. Estava escolhendo alguns legumes na banca dos pimentões e a mulher assombrada parou do lado dela. Olhou os legumes, olhou para ela e saiu em disparada. Em meio àquelas pessoas Gabriela saiu correndo atrás para ver se
a alcançava e quando se deu conta, estava como uma doida, toda descabelada gritando para segurarem a assombração. Todos se afastavam, cochichavam achando que Gabriela estava em surto. Envergonhada, ajeitou o cabelo, virou as costas e foi para casa, querendo desaparecer. Nem sinal da senhora do além.
Gabriela em muitas dessas ocasiões tentava que outras pessoas lhe dessem atenção, mas quando davam, a assombração tinha sumido.
Hoje ela iria relatar ao médico todas as vezes que lembrava da figura sinistra ter cruzado seu caminho nestes últimos meses. Não aguentava mais a tensão. Já saia na rua imaginando que a senhora assombrada iria cruzar seu caminho em qualquer lugar. Só ficava sossegada sozinha porque sabia que a assombração preferia locais públicos, lugares com muita gente. Estava se isolando para ter um pouco de paz, mas começou a se deprimir com isso. Queria solucionar o problema, mesmo que fosse diagnosticada com algum transtorno de personalidade. Mesmo que precisasse de remédios.
Ali, sentada na cadeira de um consultório, ela suspirava e tinha certeza que estava doente. Alguma coisa não estava bem na sua cabeça. Escorreu uma lágrima. Depois outra... tentou se controlar. 
De repente a porta do consultório abriu e o médico colocou a cabeça para fora, e chamou a secretária. Ela entrou na sala e logo saiu. Ligou para alguém e alguns minutos depois apareceram dois enfermeiros.
A secretária olhou para Gabriela da sua mesinha e disse baixinho:
- O doutor já vai te atender. Essa paciente que está com ele precisa ser medicada e ficar em observação por isso atrasou um pouco seu horário. Desculpe.
- Não tem problema - disse desanimada.
De repente a porta do consultório abriu e, Gabriela baixou os olhos para não constranger a paciente que sairia escoltada pelos enfermeiros. Só que de repente começaram os gritos:
- Olha ela ali! Olha ela ali sentada! Vocês estão vendo???? Ela! Ela é a assombração que me persegue! - e apontava para Gabriela com terror nos olhos cheios de catarata.
Coração quase na boca, a moça reconheceu aquela pessoa: era a velhota sinistra que vivia aparecendo na sua frente. A velhota continuou gritando:
- Eu não posso ir a nenhum lugar. Ela está sempre lá com essa cara de pateta me perseguindo... no restaurante do meu filho, na faculdade onde dou aula de filosofia, na praia, até na feira essa louca quase me atacou... eu não aguento mais!!!! Eu não aguento maissssssssssssssssssss!!!!!!
Gabriela começou a rir. Riu e chorou muito ali na frente de todos, incluindo o médico. A cabeça parecia que ia dar um nó... então a senhorinha achava que ela era a assombração? Chorava, ria e uivava. Deitou no chão de tanto rir... riu tanto que fez até xixi nas calças.
Acordou no outro dia e sua mãe estava ali ao pé da cama. Tinha sido internada na casa de saúde porque não conseguia mais parar de rir. Tiveram que dar um sossega leão e fazê-la dormir. 
Curiosa, olhou para ver a paciente do lado, já que o quarto era coletivo. 
- Não, de novo não!!! - as duas gritaram ao mesmo tempo, a idosa e a Gabriela. A velha com medo apavorada na outra cama e a moça rindo alucinadamente.
Ambas permanecem internadas, sem previsão de alta.










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