terça-feira, 16 de agosto de 2016

Lua de Mercúrio, Fogo e Mel

Título sugerido por Mirela Barrella 
Texto redigido por Marilia Bavaresco. 

Alberto sempre quis conhecer São Paulo. Sempre achou fascinante a ideia de
viver na grande metrópole. Porém, agora que estava chegando sentia uma angústia, um frio na barriga. Não sabia se era porque estava prestes a entrar na cidade grande ou porque ia encontrar Sinara, até então sua namorada virtual.
Por alguns instantes ele pensou que seria melhor ter ficado na cidadezinha dele tamanho era o medo que sentia. Mas logo teve que apagar este pensamento pois o veículo estacionou no box da rodoviária.
Ele desceu, pegou sua mochila e logo ali na frente aguardando estava ela: Sinara! Era exatamente como ele imaginava: baixinha, magrinha e muito simpática. Se abraçaram. Um beijo rápido nos lábios. De mãos dadas foram conversando rumo ao futuro. 
Passados alguns dias, ele ainda estava se habituando com o ônibus e o metrô, com as imediações de onde estava hospedado, com a comida ruim da sua sogra Quininha. Enquanto Alberto e Sinara namoravam nos moldes dos bons costumes durante o dia, de noite a coisa ficava como o diabo gosta. Um dos dois ia pro quarto do outro e era um fuzuê. Estavam cada dia mais apaixonados. 
Ele encontrou um emprego que pagava razoavelmente bem pois queria ter um canto para eles dois. Voltava todo dia cansado mas feliz e logo conseguiu construir atrás do terreno da sogra três cômodos para ele e Sinara terem um pouco de privacidade.
A vida corria em paz mas como o diabo é ardiloso e gosta de por fogo na vida das pessoas, colocou no caminho de Alberto a vizinha Carla. Morena, alta e voluptuosa. Além disso, simpática e fogosa. Não demorou muito para Alberto começar a se atrasar para chegar em casa, voltar tarde e de tão exausto não dar atenção à Sinara.
Carla enlouqueceu a cabeça de Alberto que ficou cego de paixão. Não havia mais sinal daquele cara concentrado, obstinado que chegou à capital meses antes. Começou a faltar dinheiro em casa, ele já não ajudava nem nas tarefas domésticas nem com o pagamento das contas que iam se acumulando.
Enquanto Sinara fingia não se dar conta do que acontecia, sua mãe tentava alerta-la para a traição do marido. O irmão se Sinara ficava a cada dia com mais raiva do cunhado.
Do outro lado, Alberto já não se importava mais com nada. Contava os segundos para estar entrelaçado pelos braços e beijos de Carla. Era só isso que importava: os chamegos da amante. 
Sinara cada dia mais triste, aconselhada pela mãe e pelo irmão, resolveu
investigar, seguiu o marido e acabou flagrando Alberto com a vizinha Carla num motel barato. Ali mesmo ela terminou com ele. Foi para casa arrasada mas aliviada, colocou os trastes de Alberto numa sacola grande e deixou na frente do portão. 
Horas depois, quando ele chegou em casa, as chaves tinham sido trocadas e a vergonha era tanta que pegou aquela sacola e se dirigiu para a casa ao lado. Bateu. Bateu de novo. Bateu mais vezes, mas ninguém atendeu.
Carla, prevendo que ia ter que ajudar o amante de quem só queria lua de mercúrio, fogo e mel, pegou um ônibus e foi para a casa do pai no outro lado da cidade. Desapareceu. 
Alberto estava sem dinheiro e sem ter para onde ir. Sentou embaixo de uma marquise e ali ficou. 
Passaram-se meses, anos peregrinando atrás daquela que roubara seu coração. É possível encontra-lo de vez em quando todo sujo, magro e desgrenhado perambulando nas imediações da Vila Madalena pedindo um trago para as pessoas e perguntando: - Conhece a Carla? Preciso encontrar a Carla... 


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