quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Mães Superproteroras Que Enlouquecem Os Filhos.

Título sugerido por Miucha Bianchi
Texto redigido por Marilia Bavaresco.

Carmela era uma mulher bonita para a sua idade. Desde adolescente era vistosa, morena, alta, lábios carnudos. Casou-se cedo com um rapaz de sua idade e teve três filhos, um após o outro. De personalidade forte, dominou seu o lar e se tornou a chefe da família.
Os filhos cresceram cercados de cuidados até demais. Enquanto as crianças da vizinhança corriam na terra, sujavam os pés, subiam em árvores, os "três mosqueteiros" como eram chamados os rebentos de Carmela, tinham que ficar observando de longe, limpíssimos e imaculados. Se voltassem com um amassado na roupa ou uma mancha que fosse, era um deus nos acuda. 
Para evitar a gritaria e os chiliques da mãe, os meninos cresceram fazendo as coisas escondidos ou evitando atividades mais radicais. Também aprenderam a mentir nas menores coisas porque tinham medo dos castigos impingidos por ela. Carmela por sua vez justificava que era por amor esse tipo de zelo sufocante.
Logo veio a adolescência dos guris e eles começaram a sair com suas turmas e, como não podia deixar de ser, começaram a namorar. 
À primeira vista, quando levavam a namorada em casa, a sogra era bacana, faladora, cheia de histórias dos filhos para contar para as noras. Mas com o passar do tempo Carmela se tornava tão invasiva que ficava insuportável a convivência. 
Não era raro os rapazes se revoltarem com a mãe e brigarem por causa das atitudes de "mamma italiana" dela. Mas como viviam sob o mesmo teto, sustentados pelo trabalho de costureira de Dona Carmela, tinham que se resignar.
Com o passar dos anos o pai faleceu e cada um dos três seguiu sua vida. 
O primeiro que casou teve que aturar os palpites e intromissões da mãe na
igreja, na cerimônia, na decoração da casa. Era comum os marceneiros terem que desmanchar móveis a mando dela e depois terem que repor porque o filho irritado não tinha gostado do que ela fazia. Tanto fez, tanto reinou que o filho teve um acesso de raiva e expulsou Dona Carmela. Disse que na casa dele mandava o casal e que ela, se quisesse, seria visita. Só isso. 
Ela não se deu por vencida. O outro filho estava em vias de casar também. Ela começou a infernizar com a cerimônia, com os convidados, a dar palpite até no vestido da noiva. Só que essa, já prevenida, fingia que escutava os palpites da sogra e fazia o que queria. Depois de casarem, essa nora logo engravidou. A Dona Carmela parecia enlouquecida. Ia umas cinco vezes por dia na casa deles, que também "ajudou"
a decorar. A nora estava perdendo a paciência. Dias depois de ter o bebê, a sogra não fazia menção de ir embora, tudo que a nora fazia não prestava e o que ela dizia é que era bom para o bebê. Num desses dias o filho explodiu e disse para a mãe só ir lá quando fosse convidada. Ela seria vó e não mãe do neto. Eles iam criar o filho, acertando ou errando.
Dona Carmela já estava indisposta com dois filhos, mas ainda tinha o mais novo. Ele, vendo o quanto os irmãos mais velhos tinham penado na mão da mãe, evitava qualquer confronto. Também fazia o gênero de fingir que ouvia mas acabava fazendo o que queria. Acontece que a sua namorada era uma pessoa de personalidade muito forte, talvez mais forte que a personalidade de Dona Carmela. Passado um tempo, o filho e a nora anunciaram o casamento. E desde cedo eles blindaram os preparativos da cerimônia de Dona Carmela que, descontente, começou a falar mal do casal: que seu filho havia embarcado numa canoa furada, que aquela víbora o tinha seduzido, coisa e tal. Isso chegou aos ouvidos deles mas de acordo, não fizeram nada por conta do casório que se aproximava. E a sogra continuava alfinetando, implicando, tentando se intrometer na vida dos dois onde houvesse uma brecha.
No dia da cerimônia Dona Carmela amanheceu infernizando o filho. Fez questão de fazer uns ajustes no terno alugado o qual ela encheu de defeitos por não ter
tido chance de ajudar escolher. Depois, inconveniente como era, deu um jeito de procurar a nora e tentar dar uns conselhos de mãe para "filha". A nora escutou um pouco e pediu gentilmente a ela que saísse que precisava descansar.
Dona Carmela voltou furiosa para casa e disse ao filho que tinha sido expulsa, fez uma tempestade num copo d´água... mas ele já sabia de tudo. Se sentia muito irritado com a mãe, pelo acúmulo de uma vida toda de cerceamento, tolhimento e sufocamento. Ele entendia que era o jeito da mãe, mas não aguentava mais esse tipo de opressão dentro de sua própria casa.
Quando a mãe abriu a boca para continuar suas lamúrias, ele agarrou o pescoço dela. De susto, Dona Carmela teve uma parada cardíaca e morreu subitamente.
Chocado consigo mesmo o filho chamou a polícia e a noiva. Não conseguia parar de chorar. Não conseguia conviver com a culpa. Será que acabaria com a vida da mãe se ela não tivesse tido o ataque cardíaco? Além de ser um filho desalmado seria um assassino também? Surtou e foi internado. Nunca mais saiu do estado de catatonia que o abateu.
A ex-noiva se tornou ativista do grupo MSEF: "Mães Superpotetoras Que Enloquecem Os Filhos", entidade que dá assistência às famílias com problema de relacionamento, especialmente mães e filhos. Todas as noras da falecida Carmela dão palestras sobre o assunto. 

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