sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Porque Eu Não Sou Obrigada!

Título sugerido por Sandra Dozzi.
Texto redigido por Marilia Bavaresco.


Era uma vez uma princesa muito querida, que sempre concordava com tudo para não se indispor com ninguém. Ela tinha tanto medo que não gostassem dela que acabava sempre por fazer coisas que a desagradavam mas deixavam os outros felizes, fossem súditos ou realeza.

Um dia, fatigada de tanta cobrança, ela desabafou com a sua ama que cuidava dela desde bebê. A ama sugeriu que ela começasse a dizer não. Não era necessário agradar a todos, pois a maioria sabendo que a princesa tinha essa fraqueza acabava por se aproveitar dela.
Mas era muito difícil. Por mais que tentasse, só conseguia concordar e dizer sim. Isso a estava deixando muito deprimida.
Numa noite enluarada, em que não conseguia dormir, sentou-se à janela e começou a chorar. Precisava de ajuda, mas não sabia a quem recorrer.
Nesse instante um mago se materializou na frente dela. Minúsculo e brilhante. A princesa quase caiu da janela de susto. 
- Quem é você? Ou o que é você? - perguntou.
- Sou o mago dos desejos. Vim para ajudá-la.
- C-como assim? - gaguejou a princesa assustada.
- Faça um pedido e eu concederei. Pense bem pois será irreversível. Depois de realizado não tem como reverter. Pode pedir! - falou o minúsculo barbudinho alado.
A princesa enxugou suas lágrimas, pensou muito sobre o que gostaria e de repente, sem medir as consequências, pediu:
- Eu quero conseguir dizer não para as pessoas.
Plim!!!!!!!!!!!! Um brilho e uma espécie de fumaça encheu o quarto. Quando tudo se dissipou, não havia sinal do minúsculo ser.
A princesa pensou que tivesse sido uma alucinação e, resignada, deitou-se e adormeceu.
No dia seguinte ao acordar, seu café estava servido na cama como sempre. Chamou a ama e disse:
- Não quero tomar café na cama. Quero tomar na mesa com meus pais.
A ama se surpreendeu. A princesa se deu conta que havia falado pela primeira vez um "não". E que não havia doído. As duas riram e o café foi tomado na mesa com o rei e a rainha. 
- Minha filha, - disse o rei - a fila de súditos hoje está imensa. Vais começar a recebe-los logo?
- Não pai. Hoje eu não receberei ninguém. Estou com preguiça. - e sem nenhum remorso, levantou-se, beijou seus pais e saiu para o jardim.
Os dias e meses passaram, e aquela menina meiga e doce de outrora já não existia mais. Aos poucos a princesa foi se tornando intolerante, intransigente, mandona e grosseira. Inclusive com seus pais. 
O rei e a rainha alarmados, haviam suspendido o horário em que a princesa recebia seus súditos, pois ela não só dizia não para todos os pedidos, como as vezes tripudiava deles.
A ama, aflita, pensando que tinha sido sua culpa pois ela havia dado a sugestão da sua amada menina dizer não, se recolheu aos seus aposentos e chorou. O mesmo mago que havia aparecido para a princesa meses atrás, apareceu para ela.
- Vamos direto ao assunto senhora. Faça um pedido. Qualquer um. Será irreversível, portanto cuidado. Pense bem!
Assustada, sem pensar que podia pedir algo para si mesma, pediu imediatamente que a princesa se tornasse uma pessoa sensata.
Mesma luz, mesma fumaça e "puf!"... tudo ficou escuro. A ama também pensou que tinha alucinado e adormeceu no seu leito.
No dia seguinte, já no café da manhã as pessoas perceberam que alguma mudança havia ocorrido com a princesa. Ela conversava normalmente, ponderava as coisas, dizia sim ou não normalmente. 
A princesa se sentia estranha. Não entendia o que estava havendo mas estava muito calma e serena, diferente do período anterior onde tudo a irritava e cada não que dizia, outros muitos apareciam. Uma bola de neve de negatividade.
Aos poucos começou a receber os súditos de novo, e a notícia no reino era que a princesa boazinha estava de volta. Filas imensas começaram a se formar ao redor do castelo. 
No primeiro dia os reis estavam receosos e tinham medo que a sua filha tratasse mal as pessoas como ocorrera pouco tempo antes.
Aos pedidos que não eram esdrúxulos, que faziam sentido e que ela podia atender ela disse sim. Aos pedidos fora de propósito, incoerentes disse não.
Uma mulher impaciente que aguardava sua vez de falar com ela, pressentindo que o seu desejo não seria atendido, começou a gritar:
- Ei dona princesa! Honre seus pais que sempre foram bons e conceda os pedidos da gente. Sempre fomos atendidos, fosse o pedido que fosse... se a senhora voltou a ser boazinha, prove!
A princesa se levantou. Caminhou até a senhora que estava no fundo da fila. Parou na frente dela:
- Senhora, tenho dois motivos do porquê não posso conceder todo e qualquer pedido de vocês. O primeiro é que nem todos os pedidos são realmente necessários ou importantes. Alguns são até descabidos. 
- E o segundo motivo?
A princesa sorriu e, olhando para a mulher diretamente em seus olhos disse:
- Porque eu não sou obrigada.
Muitas palmas, muitos gritos de apoio e a mulher envergonhada saiu da fila e nunca mais pediu nada.
A família real dividiu seu reino com os súditos e viveram felizes para sempre.






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