Micos

De vez em quando fico me lembrando de coisas que aconteceram comigo e fico rindo de mim mesma. 

Quando vim morar em Porto Alegre, eu tinha dezoito anos e um sotaque da serra gaúcha bem mais acentuado que hoje. Evitava ter que falar muito porque sempre sentia vergonha. Certa feita estava eu no centro, na Rua Uruguai e parei na antiga Docelândia. Pedi um sorvete e a atendente me fez repetir o que eu queria só pros outros ouvirem o "sorvetE" com E mesmo no final. Saí dali com o sorvetE de duas bolas, feliz por ter conseguido mesmo com o constrangimento. Dei duas lambidas e passa um rapaz e grita bem no meu ouvido: por isso que é gorda!!! (olha que eu tinha uns 20 kg  menos que agora!). Nunca um sorvete foi tão difícil de ser digerido. =)

E aquela vez em que eu fiquei em casa para assistir o jogo Grêmio X Ajax (faz tempo heim?) porque tínhamos sido liberados. Era de manhã cedo. O Grêmio perdeu o Mundial e eu saí correndo de casa para o trabalho que começaria uma hora depois. Desci no centro, e fui caminhando pela Rua da Praia apressadamente. De repente, fiquei sem a sola da alpargata. Procurei uma loja que estivesse aberta, comprei outra alpargata e fui pro serviço (quem usa alpargata hoje em dia?).

Outra vez eu estava indo pro serviço, no centro também e calçava um mocassim. Sim, eu usei mocassim. E era novinho. Quando olho por meu pé esquerdo tinha um baita cocozão de pomba e o pior: tinha um bicho se mexendo no meio daquela nojeira. Eca!!!!!!!!!! Limpei com uma folha de árvore o grosso da sujeira e lavei quando cheguei no serviço.

Logo no início da minha vida na Capital eu estava indo para a PUC lá em 1900 e antigamente, e resolvi fazer outro trajeto pelo centro (de novo!) de ônibus (eu só tive carro muitos anos depois). Estava com um sapato novinho, da moda, com salto inteiro (mas era uma marca chulé, genérico). Descendo a Borges, me sentindo a Marilia "Binxen", pisei em falso (colono é assim, só sabe caminhar de bota sete léguas) e fui de joelho no chão. Rasguei as calças e o salto voou alguns metros longe. Ninguém me ajudou, alguns até riram... voltei pra casa, me troquei e fui pelo caminho de sempre, chegando atrasada para a primeira aula.

Eu amo lembrar dos micos que paguei e tenho certeza que ainda pagarei muitos mais na vida (amém!). Ainda mais quando o resultado deles são muitas risadas, geralmente dos outros quando eu conto! Adooooro!