terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Intercâmbio - Ponto de Vista de Uma Mãe

Um ano atrás a Rafaela recebeu o aviso da AFS sobre o intercâmbio: tinha conquistado uma vaga para um ano de High School a Itália.
Claro que na época, apesar da vertigem de saber que ela ficaria um ano longe de mim, foi emocionante começar a planejar e resolver todos os detalhes a partir dali.
O tempo passou, setembro chegou e ela partiu no dia cinco (5) daquele mês.
No dia da partida dela, senti náuseas voltando do aeroporto e muita dor de cabeça. A despedida foi emocionante, os colegas e amigos estavam lá. Muito choro e muitos abraços. Eu tinha pedido licença no trabalho e fiquei imprestável no sofá de casa, aflita com a viagem dela e a noção da sua real ausência.
No primeiro dia após a partida, o vazio em casa era opressivo. Até os gatos e a cachorrinha estranharam a calmaria e o silêncio.
Fiz a arrumação do seu quarto logo no segundo dia porque a ferida estava aberta e eu quis aproveitar para sentir a dor da separação toda de uma vez.

Depois, aos poucos, comecei a ocupar todo o meu tempo desenhando, escrevendo, lendo e assistindo séries. 
Hoje faz três meses e cinco dias que Rafaela mora com uma família muito bacana em Montevago, em Agrigento na Sicilia, Itália
Frequenta o quarto ano do Ensino Médio do Liceu Científico Enrico Fermi em Sciacca e parece estar feliz e plenamente inserida na comunidade.
Nos falamos quase todo dia, muitas vezes por mensagens, mas de vez em quando fazemos ligações de vídeo ou áudio pois a saudade que sinto dela é indescritível.
Agora, volta e meia me pego pensando no que ela estará fazendo, se está tudo certo, se não estará precisando de um colo ou um ombro. Preocupação natural de mãe.
Em contrapartida evito ficar chamando ela o tempo todo, porque sei que atrapalha. Uma vez por dia mais ou menos a gente troca mensagens e se ela me chamar eu fico muito feliz, porque posso estender um pouco mais a conversa.
A Rafaela sempre foi uma pessoa muito doce com todo mundo e pelos feedbacks que venho tendo da sua família italiana, não é diferente por lá.
No início do intercâmbio os meus sonhos com ela eram recorrentes. Quase toda noite minha filha estava presente nas maluquices que eu sonhava. Hoje já consigo dormir mais profundamente, muitas vezes sequer lembro do que sonhei. Acho que é resultado das boas notícias e de tudo estar sendo tranquilo até agora.
Boa parte desse sossego foi termos escolhido a AFS. A organização e a segurança que a instituição transmite são plenas. Desde a preparação e recepção dos intercambistas, o acompanhamento pelos núcleos espalhados na Itália, até os voluntários que estão nas escolas e assessorando as famílias hospedeiras:  tudo muito tranquilizador.
O intuito dessa experiência nessa etapa da vida dela é que Rafaela possa vivenciar outra realidade, ter mais autonomia, voltar com mais maturidade para
seguir com seus planos, sejam eles quais forem.
Rafa com voluntários e sua família no aniversário dela.
Gostaria, como toda a mãe, de poder dar o mundo de bandeja para ela. Mas a gente sabe que a vida não é assim. Os percalços e dificuldades existem e moldam nossa capacidade de enfrentá-los. Tudo é experiência. As coisas boas e as coisas ruins. Não há como privar os filhos disso.
Claro que eu queria ter a Rafaela perto de mim sempre, mas o mundo é muito vasto e precisa ser desbravado. 
Ela é jovem, inteligente, linda e saudável e alçou seu vôo. Filhos são para o mundo, como dizem por aí!
Desejo que conquiste tudo o que desejar, mas que acima de qualquer outra coisa, seja sempre a menina alegre e afetiva, de olhinhos brilhantes que sempre queria saber o porquê das coisas.
Para mim, aquele bebezinho prematuro e indefeso, que lutou muito desde o início da sua vida, foi só o prenúncio de uma pessoa guerreira, que acredita nos seus ideais e que fará a diferença num mundo tão necessitado de pessoas realmente boas. Tenho muito orgulho de ser a mãe dela.
Eu te amo Rafaela.


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